quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dica

"Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre."

Clarice Lispector


Aproveitando a imagem, sugiro o longa Mary e Max.

Desenvolvido com a técnica do stop-motion e finalizado com a ajuda da computação gráfica, o filme é baseado em fatos reais, sobre a amizade entre uma menina australiana de 8 anos e um novaiorquino de 44. Ela é gordinha, desajeitada, muito curiosa; sua mãe é uma alcoólatra depressiva e seu pai trabalha numa fábrica de pregar cordões nos saquinhos de chá. Ele é um senhor que sofre da Síndrome de Asperger, recluso em sua casa, seus pensamentos lógicos e seu vício em cachorro quente de chocolate (!). Ambos são cheios de pensamentos filosóficos sobre a vida, que só diferenciam-se pela diferença etária. Quem nunca fez as perguntas de Mary quando criança? Quem nunca teve pensamentos de tangência com a teoria de Max, em algum momento da vida?

Inicialmente, é possível pensar que trata-se de uma animação de história engraçadinha e clichê, mas o que se vê é um drama cômico envolto por diversas camadas, que se mostram aos poucos para o público e impressiona pela densidade do roteiro e pelos rumos inesperados que história toma.

A animação tem como principal fonte de humor a complementação imagem-narração. A graça advém da irônica controvérsia entre o que é mostrado e o que é falado.

O filme critica a sociedade-do-pouco-contato em que vivemos, mostrando os vícios e as fobias dos personagens, não só dos protagonistas como também dos coadjuvantes, como a mãe e o vizinho de Mary; a vizinha e os cidadãos que Max observa.

Mary “vê” tudo em tons marrons, enquanto que Max “vê” tudo em preto-e-branco. O que acontece quando as duas visões de mundo se encontram é tristonho, mas profundo e muito bonito. A sensação tida, quem sabe, pode ser a de comer leite condensado na lata, com o seu melhor amigo.

Como disse a escritora Ethel Mumford: “Deus nos dá familiares. Ainda bem que podemos escolher nossos amigos”.

Mary e Max (os personagens e o filme), encantam e emocionam do começo ao fim, assim como a bela trilha sonora instrumental. Uma overdose muito bem vinda de originalidade.

Uma frase, aparentemente simples, dita pelo médico de Max, Dr Hazelhof, resume o filme: “a vida de todo mundo é como uma longa calçada. Algumas são bem pavimentadas, outras (…) têm fendas, cascas de banana e bitucas de cigarro”.

Se for para viver uma história linda e ímpar como a de Mary e Max, eu prefiro que a minha calçada seja bem defeituosa. Só procuraria um pouco de tinta para pintar o meio-fio!

(Fonte: http://www.cinepop.com.br/criticas/maryemax_101.htm)

Um comentário:

  1. Márcia, adorei a dica e o trecho da Clarice Lispector! Parabéns. Beijos, Carol

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